Foto: MARCOS CORREA AP (Bolsonaro recebe Piñera no Palácio da Alvorada.)
Sebástian
Piñera parou no Brasil após participar da tensa reunião de líderes do G7, que
marcou confronto de Macron com presidente brasileiro pelos incêndios na
floresta
AFONSO BENITES/EL PAÍS
Brasília (DF) - Em meio a uma crise
internacional e ambiental que já dura quase 20 dias, o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) recebeu nesta quarta-feira o primeiro apoio
explícito e pessoal em Brasília. O presidente do Chile, Sebástian Piñera,
reuniu-se com o brasileiro para declarar que está disposto a coordenar uma rede
de suporte aos países
amazônicos com o objetivo de ajudar a debelar os focos de incêndio.
Neste primeiro momento, o chileno ofereceu quatro aeronaves para atuar na
região Norte do Brasil. E Bolsonaro aceitou.
No encontro, Piñera afirmou que
conversou pessoalmente com cada um dos líderes do G7, grupo dos sete países
mais ricos do mundo, no fim de semana para explicar que o Governo brasileiro
estava se empenhando em defender suas florestas. O Chile participou da reunião
em Biarritz, na França, como país convidado.
“Os países amazônicos têm soberania sobre a
Amazônia. Isso há que reconhecer sempre. Portanto, são eles os mais
interessados em preservar e proteger as florestas e a biodiversidade”, declarou
Piñera ao fim do evento com Bolsonaro, marcado de última hora e realizado no
retorno do chileno da viagem à Europa. “O Chile quer colaborar com o Brasil
como tantas vezes o Brasil colaborou com o Chile”, afirmou. A visita de Piñera
ao Brasil foi relâmpago. Ele chegou na manhã desta quarta, reuniu-se com
Bolsonaro por volta das 7h e logo regressou ao Chile.
O presidente brasileiro ainda informou que
representantes de oito dos nove países amazônicos deverão se reunir no próximo
dia 6 de setembro, em Letícia, na Colômbia, para debater estratégias conjuntas
na proteção do bioma. Bolsonaro afirmou que apenas a Venezuela, país cujo
regime é criticado pelo presidente brasileiro, não foi convidada para o ato. Os
demais participantes são Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname Guiana e
Guiana Francesa.
Na declaração que deu à imprensa,
Bolsonaro voltou a reclamar dos discursos do presidente francês Emanuel
Macron, que sugeriu a internacionalização da Amazônia, criticou a política
ambiental do Brasil e disse que o mandatário brasileiro mentiu para ele. No fim
de semana, o G7 ofereceu uma ajuda de 20 milhões de dólares ao Brasil, mas o
valor não foi aceito por Bolsonaro porque ele entende que, antes de receber o
recurso, Macron deveria se retratar por chamá-lo de mentiroso. “A Alemanha e em
especial a França estavam comprando a nossa soberania à prestação. Deixei bem
claro isso aí. Parece que 20 milhões de dólares é o nosso preço. O Brasil não
tem preço”. Nesta terça, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo,
aceitou uma oferta de 10 milhões de libras (51 milhões de reais) do Reino
Unido.
Assim como Macron tem usado a crise da
Amazônia para se capitalizar perante seu eleitorado, Bolsonaro tem seguido o
mesmo caminho em Brasília. Na reunião de terça-feira com os governadores da
Amazônia Legal, fez um discurso
anti-Macron, atacou a demarcação de terras indígenas e áreas quilombolas e
prometeu enviar um pacote de alterações legislativas ao Congresso.
Nesta quarta-feira, ele até quis amenizar o
seu discurso, dizendo ser moderado, e não de extrema direita. “Essa inverdade
do Macron ganhou força porque ele é de esquerda e eu sou de centro direita”,
afirmou o presidente. Foi interpelado por um jornalista que disse que, na
França, Macron é considerado de centro-direita. “Pra você, pra mim não”,
respondeu o presidente.
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