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Blog de Tabatinga

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Ecologia - Pesquisa de gás e petróleo ameaça Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas

Lideranças indígenas estão cobrando da Funai e da ANP esclarecimentos
sobre atividade nas proximidades de sua terra


21 de Dezembro de 2012
ELAÍZE FARIAS

Lideranças indígenas do Vale do Javari, localizado no Município de
Atalaia do Norte (1.138 quilômetros de Manaus) estão preocupadas com
os impactos de atividades de prospecção sísmica para identificação e
exploração de gás e petróleo na região. Desde abril, a empresa Geo
Radar, contratada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), vem
realizando os trabalhos na área do Vale do Juruá, no Acre, mas segundo
as lideranças do Vale do Javari, a pesquisa atinge o limite de sua
terra indígena.
Em nota enviada à Fundação Nacional do Índio (Funai) no último dia 18,
a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), representante
dos povos mayuruna, kanamary, kulina, matís e marubo, cobra a presença
da Geo Radar, da ANP e do próprio órgão indigenista no município
amazonense de Atalaia do Norte para esclarecer sobre a atividade de
prospecção.
De acordo com a Unijava, a pesquisa da Geo Radar vai poluir as
nascentes dos rios Itaquaí, Ituí e Jaquirana, afluentes do rio Javari
e reduzir o estoque de caça e de pesquisa, sobretudo dos grupos
indígenas isolados. "Nossa terra é a nossa vida. Basta o que
enfrentamos com o descaso de doenças que já levou uma terça parte dos
nossos povos. Não queremos ficar na história, queremos continuar com a
nossa área protegida que faz parte das nossas vidas", diz trecho da
nota. Doenças e poluição
O assessor da Associação Marubo, Clóvis Rufino, responsável pela
divulgação da carta pela Internet, disse ao jornal A CRÍTICA que a
entidade pretende marcar uma grande assembleia com os envolvidos na
pesquisa na Aldeia São Sebastião, dentro do Vale do Javari.
Embora a prospecção da Geo Radar já venha sendo realizada, os
indígenas do Vale do Javari souberam que a atividade também pode
afetar sua terra somente no início do mês, durante uma reunião no
Município de Tabatinga (a 1.105
quilômetros de Manaus), vizinho de Atalaia do Norte. Imediatamente,
houve uma articulação para cobrar da Funai esclarecimentos sobre a
pesquisa e os impactos.
"Disseram que as atividades de pesquisa estão distante 10 quilômetros
da TI do Vale do Javari. Mas essa distância não significa nada. Onde
está a linha da empresa, há trânsito de índios isolados, que serão os
mais afetados. O nosso receio é que aconteça a mesma coisa que ocorreu
nos anos 70 e 80: doenças e lixo. Naquela época, houve uma pesquisa
semelhante que nos trouxe muita poluição de igarapés, morte de peixes,
proliferação de mosquitos da malária, transmissão de doenças. Até hoje
há dinamites que não foram desativadas na terra indígena", disse
Rufino.
Estratégia
Na semana passada, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) divulgou
nota com um detalhado histórico da exploração de gás e petróleo
naquela região. A CTI considera grave o fato dos povos indígenas do
Vale do Javari não terem sido informados a respeito do empreendimento
previamente à realização das atividades.
De acordo com o CTI, as linhas sísmicas foram estrategicamente
traçadas pela ANP a fim de distanciarem no mínimo 10km de Terras
Indígenas e Unidades de Conservação, alegando tratar-se de uma
atividade de impacto indireto às áreas protegidas. Para o CTI, desta
forma a ANP evita "um demorado e custoso processo de licenciamento
ambiental". A nota completa está no endereço
www.trabalhoindigenista.org.br.
A prospecção de gás e petróleo no Vale do Juruá começou em abril deste
ano com pouco alarde, mas lideranças de povos indígenas do Acre que
serão afetados imediatamente divulgaram uma nota protestando contra a
atividade. Na nota, os indígenas afirmam que os riscos e benefícios da
atividade vinham sendo discutida apenas entre "políticos", sem
considerar a população que vive na região. A íntegra da carta pode ser
acessada no link
http://pagina22.com.br/index.php/2012/06/carta-contra-a-exploracao/.
Cobrança
No início deste mês, a Coordenação Regional da Funai do Juruá promoveu
uma Reunião com a Geo Radar, após cobrança dos povos indígenas do
Acre. Em texto divulgado no site da CR Juruá, o indigenista Jairo Lima
disse que, a empresa apresentou "respostas evasivas" e não trouxe
"maiores novidades além do possível potencial" de gás e petróleo.
Segundo Lima, a resposta não agradou nem convenceu as lideranças
presentes.
Na região do Vale do Javari vivem mais de três mil indígenas. Há,
porém, registros comprovados de povos isolados, cuja quantidade não é
contabilizada pela Funai. As condições de saúde daquela região é
também uma das mais críticas do País, com alto índice de hepatite,
malária e mortalidade infantil. A região também sofre pressão de
invasores, que exploram ilegalmente caça, pesca e a derrubada de
árvores.
Funai e ANP
Por meio de assessoria de imprensa, a Funai foi procurada anteontem
para se posicionar a respeito dos questionamentos da Univaja, mas não
respondeu até o fechamento desta edição. A assessoria de imprensa da
ANP também foi procurada, por telefone e por email, mas não retornou
ao contato.

Fonte: http://acritica.uol.com.br/amazonia/Manaus-amazonas-amazonia-Gas-petroleo-ameacam-Vale-Javari_0_832716731.html

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