Fotos: De cima para baixo: 9ª Distrito da
Marinha (Caiaque usado pela britânica foi encontrado na comunidade Lauro Sodré,
entre Codajás e Coari, cerca de 400 quilômetros antes de Manaus) e Reprodução/Twitter
(Britânica escreveu sobre um encontro com pessoas armadas no Twitter um dia
antes de desaparecer)
A Polícia Civil do Amazonas informou que
apreendeu um menor suspeito de ter assassinado a britânica Emma Kelty, de 43
anos, que estava desaparecida no rio Solimões, no Amazonas, desde a última
quarta-feira.
Segundo a polícia, o menor disse ter
participado do crime com outras seis pessoas que são "barrigas
d'água", ou piratas do Amazonas. As investigações apontam para a
possibilidade de a britânica ter sido vítima de latrocínio, ou seja, roubo seguido
de morte. Ela teria sido assassinada a tiros.
De acordo com a polícia, entre os objetos
que o grupo teria roubado estão uma câmera GoPro, celular, tablet e dinheiro.
As investigações apontam que os criminosos teriam tentado vender os objetos no
município de Lauro Sodré.
O Ministério das Relações Exteriores do
Reino Unido, por meio de nota, afirmou que está "apoiando a família da
britânica após sua morte no Brasil". Disse ainda que está em contato com
as autoridades brasileiras.
Embora a Polícia Civil tenha confirmado a
morte de Kelty, os investigadores ainda não localizaram o corpo. A assessoria
explicou que a polícia chegou à conclusão de que ela teria sido morta com base
na confissão do menor, depoimentos de moradores locais e outros indícios, como
o relato de objetos vendidos em Lauro Sodré.
Kelty viajava de caiaque numa jornada que
começou no Peru no mês passado e foi interrompida entre as cidades de Codajás e
Coari (ambas no Amazonas), na beira do rio Solimões, com o desaparecimento
dela.
A atleta usava as redes sociais para
documentar a viagem pela Amazônia. No dia 12, um dia antes de seu sumiço,
afirmou no Twitter ter avistado de 30 a 50 homens "armados de rifles e
flechas" em barcos.
A polícia chegou a suspeitar do
envolvimento de traficantes que atuam na região com o desaparecimento da
britânica.
Em um tuíte no último dia 10, ela ironizou
o perigo da região: "Em Coari ou perto (a 100 quilômetros acima do rio)
meu barco será roubado e eu serei assassinada. Legal".
Segundo escreveu em um blog, o plano era
descer o rio "sem apoio ou assistência". A postagem foi feita em 9 de
agosto, quando ela ainda estava em Iquitos, no Peru. No fim do texto, disse que
estava ciente das dificuldades, mas que não tinha nenhum arrependimento.
Na madrugada de 13 de setembro, sua última
publicação dizia: "Uma mudança dramática em apenas um dia, mas o rio é
assim mesmo. Cada quilômetro é diferente, e só porque uma área é ruim não
significa que...".
Investigações
Alguns objetos que pertenceriam a ela, como
roupas e sapatos, foram encontrados na tarde da última sexta-feira por
militares do 9º Distrito da Marinha. Um caiaque idêntico ao das fotos em redes
sociais também foi achado.
Os pertences estavam em um banco de areia
na comunidade Lauro Sodré, entre Codajás e Coari, a cerca de 400 quilômetros de
Manaus. O material foi encaminhado à Polícia Civil, que abriu um inquérito para
investigar o desaparecimento.
Um policial próximo às investigações disse
que o local onde ela foi vista pela última vez é o mesmo onde um delegado de
polícia desapareceu em dezembro passado. Thiago Garcez teria sido assassinado
em conflito com traficantes de drogas que atuam no local - o corpo nunca foi
localizado.
Os próprios comentários no Twitter sugerem
que ela possa ter sido vítima das quadrilhas que atuam na área - como a
mensagem em que disse ter visto dezenas de homens armados em embarcações.
A Marinha foi informada na última
quarta-feira, por volta das 22h, de que o localizador de emergência da
britânica havia sido acionado.
Segundo o delegado Ivo Martins, que seguiu
nesta segunda-feira para Codajás com uma equipe da Delegacia Especializada em
Homicídios e Sequestro, a linha de investigação que está sendo trabalhada é de
um possível roubo, crime constante na região.
Em 2010, a jornalista inglesa Helen Skelton
percorreu 3.234 km do rio Amazonas em quase seis semanas. Mas ela não fez o
percurso sozinha: um barco de apoio onde dormia, tomava banho e fazia as
refeições a acompanhou durante todo o trajeto.
Com reportagem de Nathalia Passarinho, da
BBC Brasil em Londres, e Liege Albuquerque, de Manaus para a BBC Brasil.
Site BBC
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