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Blog de Tabatinga

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#Amazônia - A Sapota-do-Solimões (Quararibea cordata)

14/12/2015, segunda-feira

Fotos: Blog e-jardim

O título de hoje parece sugerir um fruto da saborosa família das sapotáceas, que inclui os dulcíssimos sapoti (Manilkara zapota) e abiu (Pouteria caimito). Engana-se quem se deixa levar pela nomenclatura popular. A sapota-do-solimões é parente das coloridas paineiras (Ceiba spp.), dos ornamentaisHibiscus e do célebre cacau (Theobroma cacao), todos pertencentes à família das malváceas.

A Sapota-do-Solimões possui formato globoso (ca. 12 cm de diâmetro), casca marrom-esverdeada e com textura de couro (coriácea), que encerra uma polpa amarelo-alaranjada, suculenta e abundante, algo fibrosa (como a da manga). Seu sabor é simplesmente delicioso, doce e delicado. Pode ser comparado a uma mistura de manga com melão-cantaloupe. O número de sementes é pequeno, variando de duas a cinco por fruto.

É muito popular no oeste da Amazônia, a partir da cidade brasileira de Tefé até a região fronteiriça com o Peru e a Bolívia. Nesta área aparece com freqüência nas feiras livres, colhida na mata virgem, ou mesmo em quintais domésticos, onde é cultivada.

Praticamente desconhecida dos fruticultores brasileiros fora da região amazônica, a Quararibea cordata foi introduzida no sul dos EUA (Flórida) em 1964. O autor da proeza foi William Francis Whitman (1914-2007), mais conhecido como Bill Whitman.

Bill foi um americano de grande espírito empreendedor, tendo sido pioneiro em áreas tão diversas como surfe, filmagem subaquática e construção de shoppings centers. Mas sua grande paixão acabou sendo o cultivo de frutas tropicais. Ele conta em seu ótimo livro [Whitman, W. F. 2001. Five Decades with Tropical Fruit, a Personal Journey. Englewood, Quisqualis Books. 476 p.] que "apaixonou-se" em 1947 pela fruta-pão (Artocarpus altilis) durante uma viagem ao Taiti. A partir de então, começou a organizar uma fantástica coleção das mais deliciosas frutas de climas quentes vindas de todos os cantos do planeta.

Paralelamente, fundou em Miami uma associação de pessoas que compartilhavam o mesmo interesse, denominada "Rare Fruit Council International" (Conselho Internacional de Frutas Raras). Já no final da vida, Whitman fez uma vultosa doação ao Fairchild Tropical Garden, para a construção de uma sofisticada estufa para cultivo de clones das frutas de sua coleção.

Mas voltemos ao nosso tema de hoje. Bill importou o "South American sapote" da cidade de Iquitos, na Amazônia peruana. Distribuiu a espécie a vários membros do RFCI, obtendo finalmente sua frutificação em 1973. Inicialmente de produção tímida (apenas oito frutos), a carga aumentou consideravelmente nos anos subseqüentes, chegando a mais de 60 unidades por árvore. A capa de seu livro estampa justamente esta uma dessas colheitas (ver foto).

Em meados da década de 1990, tive o prazer de me corresponder com Whitman. Apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente, amigos em comum trouxeram-me duas mudas suas de Q. cordata. Passei a cultivá-las com carinho, ministrando sombra (através do uso de tela sombreadora) e adubação equilibrada (principalmente orgânica).

As árvores desenvolveram-se muito bem no clima da Região Sudeste, apresentando maior crescimento após a remoção da cobertura sombreadora. Anualmente, aplico composto orgânico, enriquecido com fósforo e microelementos. Hoje, uma delas mede cerca de 3 m de altura, enquanto que a segunda ficou com menos de 2 m, por termos propositalmente removido seu ápice (uma técnica muito utilizada por fruticultores para reduzir o porte de algumas fruteiras). São plantas muito ornamentais, pelas imensas (40-50 cm) folhas em forma de coração (cordiformes) e pela copa simétrica, arredondada.

Qual não foi minha surpresa, dias atrás, quando aos sete anos de idade uma das sapoteiras-do-solimões aqui do E-jardim lançou uma bela carga de flores (ver a segunda foto que ilustra este texto). Divido a imagem com vocês, já torcendo para que se transformem em deliciosos frutos.


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