Se seu sentimento for um mal-estar pela felicidade dos outros, ou um desejo incontrolável de estar no lugar dessas pessoas, você está com inveja. A expressão deste sentimento, um tabu social, raramente é verbalizada e se expressa pelo olhar. Cobiçamos aquilo que vemos: quando se trata de um objeto de desejo, o primeiro botão acionado é a visão.
Redes sociais como o Facebook são ferramentas ideais para os invejosos, pois potencializam o exibicionismo dos usuários. E como a inveja raramente é declarada, quem não suporta o sucesso alheio exposto na internet pode se morder por dentro sem dar bandeira, escondido atrás do computador.
Quem inveja sofre mais do que quem é objeto dela. Contudo, ambas as partes precisam rever sua postura. "É um mal de mão dupla", avalia Leila Cury Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP. "Exageros de um lado ou de outro são perigosos, pois não retratam a realidade. Tanto para quem expõe a vida, como para quem cobiça o que é do outro", Leila pontua.
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Vera Senatro, psicodramatista e coordenadora do "Gender Group" do Instituto de Psiquiatria do HC, entende que a contramão é também uma reflexão necessária: qual o objetivo de postar fotos de uma sobremesa refinada ou de um jantar romântico? "Preciso mostrar para o outro que eu tenho. Mas será que estou tão certa de que tenho mesmo?", questiona.
A exposição pública constante de algo pessoal pode ser interpretada como necessidade de autoafirmação. A máscara é de uma pessoa bem-sucedida, mas no fundo ela não tem uma autoestima tão íntegra quanto vende. "Talvez aquele que quer se mostrar perfeitamente feliz na rede social não esteja tão feliz assim. A gente só é feliz sendo a gente mesmo", completa Leila Tardivo.
Sandra Leal Calais, professora de Psicologia da UNESP, enxerga a exposição em excesso como um indício de desequilíbrio. Mostrar que comprou um carro novo na internet tem a ver com insegurança. "Quem expõe esse tipo de coisa precisa que os outros deem o valor que ele próprio não dá. E quem olha também parece que não tem o que fazer", diz Sandra.
Graus de inveja Perder horas do dia vendo o que os outros consomem e têm também pode ser uma forma de alienação para não encarar a própria vida. No entanto, há graus de inveja. Tem aquela destrutiva e aquela que provoca a evolução do invejoso. A inveja com sentido positivo, de motivação ou desenvolvimento, é sadia.
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Para Ian Black, sócio-diretor da agência New Vegas, puxar papo no elevador já demonstra que a pessoa quer comunicar ao outro que está bem. E sair de casa com uma roupa legal já denota uma preocupação em transmitir uma imagem favorável. Na internet não seria diferente. A todo instante estamos expostos a estímulos alheios e isso pode ser positivo. É a chamada "inveja branca" ou emulação. "Será que férias em lugares incríveis e comidas deliciosas, por exemplo, não nos estimulam a ter melhores critérios para escolher viagens ou restaurantes? Isso não se restringe apenas a coisas materiais, mas também ao desejo da atenção, da aprovação, de notoriedade", defende Black.
Já a inveja que impede o crescimento não é nada construtiva. Nos casos em que a inveja beira a patologia, é preciso trabalhar a tolerância à frustração. "O invejoso precisa entender que o outro pode ter, mas ele não", analisa a psicóloga Sandra Leal Calais, professora de Psicologia da UNESP. Na opinião de Sandra, as redes sociais são como o papel – são objetos que aceitam tudo. As pessoas podem escrever o que bem entenderem e contar a história de maneira que as favoreça. "Qual é a garantia de que o invejado tem essa felicidade toda? A condição de realidade alerta para não entrarmos na fantasia do outro".Como se livrar da inveja A primeira atitude para não cobiçar o que aparece na sua timeline é ter consciência dos próprios atos e assumir que sente inveja. Não precisa bloquear aquela sua amiga que está fazendo compras em Nova York ou tomando sol e champanhe em um barco em St. Barths. O psicólogo Gabriel Goes, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, sugere prestar atenção para separar o que é real do que não é bem assim nessa exposição. Saber separar o que é verdade do que não é bem assim ajuda a superar os sentimentos negativos experimentados ao navegar nas redes sociais
"Vejo que as pessoas sempre postam o que gostariam de ser ou o que consideram ser o melhor delas. Há um senso comum que no Facebook todo mundo é feliz, quando a gente sabe que na vida isso não é verdade", assinala Gabriel. Um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, publicada em 2011, concluiu que as pessoas tendem a superestimar as próprias emoções negativas, enquanto têm a crença de que os outros estão levando uma vida plena de conquistas e realizações. E isso é ilusão. 54% dos participantes do estudo disseram achar que seus pares se sentiram sozinhos nas semanas anteriores à pesquisa. Mas, na verdade, 83% deles relataram ter experimentado a solidão. Ou seja, estamos sempre subestimando a tristeza e superestimando a felicidade alheia. Outra pesquisa, realizada em parceria entre duas universidades alemãs, descobriu que uma em cada três pessoas sentiu-se pior e mais insatisfeita com a própria vida depois de visitar o site. "Ficamos surpresos ao ver quantas pessoas têm uma experiência negativa do Facebook, com a inveja fazendo-as se sentirem sozinhas, frustradas ou com raiva", disse à Reuters, à época do lançamento do estudo, a pesquisadora Hanna Krasnova, do Instituto de Sistemas da Informação na Universidade Humboldt de Berlim.Portanto, parar de idealizar o outro, não acreditar em tudo o que vê na rede, desconectar-se do Facebook por um tempo e selecionar as amizades virtuais são unanimidade entre os especialistas para afastar a inveja despertada pela rede. Feito isso, quando não conseguir se relacionar com a prosperidade ou a felicidade alheia, a dica é olhar para dentro e perguntar o porquê do olho gordo. "Se não surtir efeito", Leila encerra, "o invejoso precisará de terapia para trabalhar seus próprios conteúdos".
Fonte: http://delas.ig.com.br/comportamento/2013-08-30/inveja-no-facebook.html
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