Foto: Difursora
Tropas do Brasil, do Peru e da Colômbia
farão um exercício conjunto que envolve uma série de atividades de como
treinamento para resgates, suprimentos, saúde, manutenção e transporte
Em meio à finalização dos preparativos para
o AmazonLog17, exercício militar multinacional voltado para treinamento de
ações emergenciais humanitárias na região Amazônica, moradores de Tabatinga
(AM) acreditam que o evento vai contribuir para melhorar áreas onde o município
enfrenta problemas crônicos, como atendimento a saúde, segurança pública e
infraestrutura. De 6 a 13 de novembro, tropas do Brasil, do Peru e da Colômbia
farão um exercício conjunto que envolve uma série de atividades de como
treinamento para resgates, suprimentos, saúde, manutenção e transporte.
Sem acesso de qualidade a diversos
equipamentos e serviços públicos, a preocupação da população local é menos com
a interação das tropas para o exercício militar e mais com um possível legado
em acesso a serviços, especialmente os de saúde. Tabatinga tem apenas uma
unidade de pronto atendimento e algumas unidades básicas de saúde. A maioria
dos atendimentos fica a cargo do Hospital de Guarnição do Exército. No fim de
outubro, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) começou a investigar uma
denúncia de falta de oxigênio medicinal nos hospitais do município.
Ao lado da filha, Alice Silva Castro, de 3
anos, a dona de casa Raquel da Silva retornava do Hospital de Guarnição, onde a
filha, com tosse forte, teve uma suspeita de bronquite descartada. A dona de
casa diz esperar que os militares deixassem mais médicos para a comunidade. “Eu
gostaria que ficasse algo disso tudo, um posto, algo assim. Seria uma ótima
coisa se acontecesse. Tem pouco médico aqui. Pelo menos nesses dias a gente vai
poder ter mais contato com os médicos”, disse.
Segurança
Outro tema que chama a atenção da população
é a segurança pública. O município ficou em segundo lugar em mortes por arma de
fogo no estado, atrás apenas da capital Manaus, no Mapa da Violência 2016. De
acordo com o levantamento, no período entre 2012 a 2014, Tabatinga registrou,
em média, 27,3 homicídios por ano por 100 mil habitantes.
Para a aposentada Nice de Moraes, o imenso
efetivo de tropas pode ajudar a coibir a ação de criminosos. “Eu acho que o
maior legado tem a ver com a questão da violência, porque aqui a gente vive
sobressaltado, quase como que no Rio de Janeiro”, reivindica. Apesar de reconhecer
que esse não é o objetivo do evento, nem o papel do Exército, ela diz que a
iniciativa poderia contribuir, de alguma forma, com a redução da violência.
“Não sei se o evento vai melhorar, mas acho
que, pelo menos, vai estabilizar, vai ficar mais aceitável. Acho que eles [os
criminosos] vão ter uma ideia de que tem alguém olhando pela gente e vão ficar
com receio de fazer alguma coisa”, declara.
Zona fronteiriça
Tabatinga fica distante cerca de 1,1 mil
quilômetros de Manaus, onde só é possível chegar de barco ou avião. Com pouco
mais de 60 mil habitantes, a cidade está localizada na tríplice fronteira. A
cidade é separada por uma pequena travessia de barco da cidade de Santa Rosa,
no Peru. Apenas uma avenida serve como fronteira com a cidade de Letícia,
capital da província colombiana do Amazonas. O trânsito é marcado por um
tráfego intenso de motos, mototáxis e tuc tucs, espécie de táxi coletivo
colombiano e peruano feito com partes de motos e que transporta até três
pessoas.
Por tratar-se de zona fronteiriça, a cidade
é fortemente marcada pela presença de militares das três forças armadas. As
instalações ocupam boa pate do território do município. Em Letícia, o missionário
Ivan Rodolfo disse que a mobilização das tropas também pode ser vir como uma
estratégia de combate ao tráfico de drogas. Segundo o missionário, natural de
Cáli, o tema deixou de ocupar a atenção das autoridades. “Penso que pode ser
também uma estratégia de enfrentamento ao tráfico, com o conhecimento do
território e mapeamento de rotas. Vai ter muita tecnologia nesse exercício”,
afirma.
Em meio ao noticiário internacional marcado
por troca de farpas entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, Rodolfo disse
temer a possibilidade de o exercício chamar a atenção de outras nações, de
grupos terroristas ou que venha ser chamariz em um hipotético conflito mundial.
“A terceira guerra mundial para mim está em cima, qualquer trisquinho, se
ascender um fósforo, vai acontecer. Eles [os estrangeiros] têm olhado para a
frente e visto que esta região aqui é a que vai restar. Aqui tem peixe, tem
água, a terça parte da água do mundo, tem recursos naturais, tem tudo”,
declara.
AmazonLog17
São esperados para o AmazonLog cerca de 2
mil participantes. Além dos exércitos do Brasil, da Colômbia e do Peru, o
evento tem a presença de militares dos Estados Unidos. Do Brasil serão cerca de
1.550 militares; a Colômbia deve enviar 150; o Peru, 120 e, os Estados Unidos,
30. Outros países, como Alemanha, Rússia, Canadá, Venezuela, França, Reino
Unido e Japão, levarão menos que dez representantes cada. A expectativa é de
que a maioria dos militares comece a chegar à área do evento a partir de
domingo (05/11).
A atividade envolve unidades de transporte,
logística, manutenção, suprimento, evacuação e engenharia. No caso de
catástrofes, por exemplo, isso implica o planejamento logístico de deslocamento
de equipamentos, suprimentos e equipes até o local da ação. Além de preparar a
área, é preciso pensar em como atender os feridos e evacuar as pessoas.
Também serão feitos atendimentos às
comunidades que vivem na região, como indígenas e ribeirinhos do Brasil e dos
países vizinhos, nas especialidades de clínica geral, ginecologia, pediatria e
ultrassonografia. Um cirurgião ficará no Hospital de Guarnição de Tabatinga.
Ainda de acordo com o Exército, parte da
estrutura ficará como benefício para a cidade, a exemplo da manutenção
realizada na rede elétrica de parte da cidade. O local de realização do
exercício de logística poderá ser posteriormente transformado em área de lazer
para a população.
O exercício visa não só a capacitar
militares das Forças Armadas, como também a promover maior integração entre os
membros das principais instituições responsáveis por socorrer as vítimas de
catástrofes naturais e acidentes, como Defesa Civil, Corpo de Bombeiro,
secretarias estaduais e Polícias Militar e Civil.
Da Agência Brasil – A Empresa
Brasil de Comunicação (EBC) tem acompanhado o evento, com equipes da Agência
Brasil e da Rádio Nacional do Alto Solimões AM e FM.
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