Trechos da
vicinal estão tomados por atoleiros, o que torna a estrada praticamente
intransitável, transformando um desafio para os pais levarem os filhos à escola
Recuperação de um ramal de 12
quilômetros de extensão iniciou às vésperas da campanha eleitoral do ano
passado e parou em outubro
ARISTIDE
FURTADO
Mais de 450 famílias da zona rural do município de
Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus) tiveram o direito constitucional de
ir e vir tolhidos pela paralisação das obras de pavimentação de uma estrada
vicinal de responsabilidade da Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra).
Orçada em R$ 12,7 milhões, a recuperação do ramal de 12 Km de extensão iniciou
às vésperas da campanha eleitoral do ano passado. Mas, segundo os moradores do
local, parou logo após a abertura das urnas.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Obras do Governo do Estado
(Sicop), a obra iniciou no dia 22 de março de 2014. A conclusão estava prevista
para 330 dias. A esse prazo a Seinfra acrescentou mais 150 dias, o que estende
o período de execução até meados de agosto deste ano. “A recuperação desse
ramal foi prometido pelo governador Omar Aziz ainda em 2012. Ele beneficiará
seis comunidades. Era para ser entregue no mês de março. E não aconteceu nem
sequer o asfaltamento. Na campanha meteram uma máquina. Depois da eleição, as
máquinas se retiraram”, disse o vice-presidente da comunidade Novo Horizonte,
Aurélio Alves de Souza.
Fotos encaminhadas pelo líder comunitário à redação mostram trechos da
vicinal tomados por atoleiros, o que torna a estrada praticamente
intransitável. O isolamento, de acordo com Aurélio Souza, causou prejuízos às
famílias que sobrevivem de agricultura de subsistência e criação de animais.
“No total, são 462 famílias, nossa produção de galinha caipira, frango de
corte, postura, piscicultura, matrinxã e tambaqui, plantio de banana, mandioca,
laranja, limão, cupuaçu estão perdidas porque não temos como tirar de lá. Tem
gente querendo abandonar as terras por causa do isolamento. Ficamos quase
incomunicável. É lama demais. Tem setores críticos”, disse a liderança.
O Sicop, sistema que pode ser acessado no site da Seinfra, aponta que a
obra encontra-se paralisada. Do total de R$ 12,7 milhões contratados com a
construtora KPK, R$ 3,3 milhões teriam sido executados, restando R$ 9,3
milhões. “Hoje tem setores que não se consegue passar o carro. Estamos tirando
do bolso para fazer ponte de madeira em cima das crateras de lama para passar
para o outro lado. A obra está na estaca zero. Nós estamos entregue às baratas.
Para piorar a situação, os giricos das olarias que extraem lenha ilegalmente
estragam ainda mais o ramal. Não tem licenciamento. Ipaam aqui não existe. O
que tinha aqui tiraram”, denunciou o líder comunitário.
Prejuízo
escolar
Outro problema relatado pelo agricultor Aurélio Souza é a dificuldade
enfrentada pelas famílias, por conta das péssimas condições da estrada, para
garantir o acesso das crianças às escolas da sede do município.
“Não tem escola na minha comunidade. Tenho uma motinha, saiu de
casa às 5h da madrugada, coloco um plástico no meu filho para ele não se melar
de lama e levo uns 35 minutos para chegar na escola. Os outros que saem a pé
com o filho no cangote andam uma hora e 45 minutos. Não tem transporte escolar.
Não tem como entrar. Até cavalo fica ruim de andar. Só na minha comunidade são
17 crianças prejudicadas”, disse Aurélio.
Chuvas
A secretária estadual de Infraestrutura Waldívia Alencar afirmou, ontem,
que as obras em Tabatinga atrasaram e foram paralisadas por conta das chuvas no
Alto Solimões. Segundo ela, todas as obras daquela região encontram-se nessa
situação. E só voltarão ao normal quando o clima melhorar. Pesquisa no Sicop
mostra que mais quatro obras contratadas pela Seinfra com a KPK, em Tabatinga,
no valor total de R$ 49,3 milhões. A de maior valor, R$ 28,1 milhões, tem como
objeto a recuperação e ampliação do sistema viário do município. Outro contrato
de R$ 9 milhões também destina-se a recuperação de ruas no bairro da Comara e
Comunidade de Umariaçu I e II.
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