Foto: www.museumaguta.com.br
Esse é o início do Ritual da "Moça Nova", e dividiremos em três partes para você ler melhor.
Por Hiram Reis e Silva
A Festa da Moça Nova, ou seja, da menina que se torna mulher, para os Ticunas é muito importante, pois eles consideram a fase da puberdade muito perigosa, período em que as jovens podem ser influenciadas por maus espíritos. O ritual tem por objetivo iniciar as meninas-moças na vida adulta e, como verificamos, é composto por eventos expressivos, como:
· Clausura – construção do local (turi) onde a menina ficará isolada;
· Convite – aos Tikunas de outros clãs;
· Pintura Corporal – da Moça Nova e dos convidados;
· Ornamentos – carregados de profundo significado;
· Mascarados – representando seres mitológicos;
· Músicas e instrumentos musicais – selecionados especificamente;
· Pelação – momento em que os cabelos da moça nova são arrancados;
· Purificação – representada pelo banho.
A partir da primeira menstruação, a menina é conduzida para um local reservado (turi), construído para este fim, com esteiras ou cortinados, sem aberturas a Este ou a Oeste, de acordo com o seu clã, onde permanecerá enclausurada por um longo período, podendo se comunicar somente com a mãe e a tia paterna. Neste período, receberá as orientações necessárias de caráter místico e profano para que possa conduzir com eficiência sua vida dali por diante. O objetivo desse procedimento é estabelecer uma nova família enquanto os parentes se encarregam de convidar os Tikunas de diversos clãs para o evento.
O pai, uma semana antes do evento, se dedica a estocar grande quantidade de caça e pesca, as quais serão 'moqueadas' para resistir até o dia da festa, ocasião em que será consumida grande quantidade de comida e 'pajuaru'.
Moquear – tornar seco, enxugar; assar a caça ou a pesca com o couro em um gradeado de madeira ou diretamente sobre as brasas. Após ser submetido a esse processo, o produto pode ser consumido até em uma semana.
Pajuaru – bebida inebriante feita da mandioca fermentada e azeda.
A cerimônia começa oficialmente com um brinde de pajuaru na casa do pai da moça. Os parentes e convidados pintam o corpo com jenipapo. A tia da moça traz feixes de fibras de palmeiras (babaçu, 'buriti' e tucum), que simbolizam a fertilidade, e serão utilizadas nas danças tribais. Durante o corte do tronco de envira, de onde se tira o material para tecer o cocar, os convivas entoam melancólicas cantigas, e o 'curaca' realiza rituais de pajelança para atrair os seres da floresta e alimentá-los.
Buriti (mauritia flexuoxa) – presente nas várzeas e margens dos Igarapés, a palmeira é conhecida como coqueiro-buriti, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira-dos-brejos, carandá-guaçu, carandaí-guaçu. Fornece a palha para cobrir cabanas e, do broto, tira-se a envira, fibra que serve para tecer redes, tapetes e bolsas.
Curaca – chefe temporal das tribos indígenas brasileiras.
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