30/12/2015, quarta-feira
Foto: Luiz Ataíde
Por Luiz Ataíde
O município de Benjamin Constant
(AM) criado pela lei nº 191, de 29/01/1898, e instalado oficialmente como
município em 12/01/1904, com a posse de seu primeiro prefeito Alfredo Augusto
de Oliveira Bastos, é o município que mais teve prefeito no Alto Solimões,
alguns não chegaram a governar pelo menos um ano completo, outros se
perpetuaram no poder como o prefeito Nelson Noronha, que governou o município
por longos 10 anos.
Nomeado pelo Governador Álvaro Maia
por Ato de 23/12/1937, tomando posse em Manaus em 27/12/1937, chegando a
Benjamin Constant (AM) na primeira classe do vapor Ajudante em 18/01/1938. Com
o título outorgado pelo governador de coronel, lógico “coronel-de-barranco”,
Nelson Noronha era um octogenário ranzinza, com sério problema de estrabismo,
ou como se diz no linguajar popular “vesgueta”, somente retirava os óculos pra
tomar banho, só tinha dois paletós, um preto e um marron que só os tirava em
casa e eram lavados apenas uma vez ao ano.
Todos desejavam que um dia tivesse
eleição pra escolher pelo voto um novo governante, mas o prefeito entrava ano e
saia ano e o velho continuava no poder, o povo de saco cheio tinha de aguentar
seu mau humor, era a ditadura de Getúlio Vargas quem mandava no país, o
Legislativo foi fechado e os Prefeitos nomeados por conchavos políticos.
O longo período de seu mandato
provocara um descontentamento do povo. No sábado de Aleluia de 1947, fizeram um
boneco (um juda), colocaram dentro de um caixão que amanheceu o dia na porta da
Prefeitura, junto estava o testamento do Prefeito se despedindo do povo, porque
ia por Alto Javari cortar seringa. O Prefeito mandou a polícia investigar os
autores, nada descobriram, pediu ajuda do comandante de Tabatinga que também
nada descobriu. No mês de junho daquele mesmo ano, durante as festas juninas
num animado forró, o maior sanfoneiro de Benjamin Constant, o “Vicentinho”,
achou de homenagear o Prefeito com um repente que dizia respeito ao seu paletó.
Indignado, gritou aos policiais que se faziam presentes “prende o safado”, mas
ninguém era louco de prender o sanfoneiro se não ia acabar o arrasta-pé. Mas o
que mais deixou o Prefeito “fulo”* da vida foi quando soube que dona Zulmira Loureiro, do povoado do
Marco-Divisório (Tabatinga), iria candidatar-se a vereadora . Dizia ele
irritado “onde já se viu mulher se meter em política, é o fim do mundo”. Aquilo
era demais para um machista como ele; fechou a Prefeitura, embarcou na gaiola
Belo Horizonte e foi para Manaus onde entregou o cargo ao governador.
Nas eleições daquele ano de 1947,
dona Zulmira foi a mais votada e a primeira mulher na história do Amazonas a
conquistar um cargo eletivo, direito conquistado pelas mulheres na Constituição
de 1947, promulgada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra.
*Com raiva
Seja o primeiro a comentar
0 Comentários