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Blog de Tabatinga

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#Tabatinga-AM - A lavadeira do General Cândido Mariano da Silva Rondon na Amazônia

26/11/2015, quinta-feira

Foto: Luiz Ataíde

Luiz Ataíde

O maior conflito bélico já registrado na região do Alto Solimões, ocasionado com a retomada de Letícia em 1º de setembro de 1932 por forças peruanas, cujas incursões militares começaram por território brasileiro através do povoado do Marco-Divisório, fez com que o governo brasileiro, oferecesse seus préstimos como mediador no conflito. Para dirimir tão delicada situação, era necessário alguém que tivesse firmeza em seus atos e o mais importante, ter a perspicácia de um diplomata para conduzir os países beligerantes a uma paz permanente e duradoura. O escolhido para esta missão foi General Cândido Mariano da Silva Rondon, que chegou a Tabatinga em 14 de agosto de 1934, vindo da capital Federal Rio de Janeiro a bordo do vapor Vitória, sendo recebido pelo comandante do Contingente Especial de Tabatinga, de onde depois seguiu para as instalações da Fazenda "La Victória", localizada aproximadamente 20 km acima de Letícia, onde ficou alojado com sua equipe de trabalho.

Em Tabatinga contratou como seu cozinheiro o jovem Euzébio Cordeiro e para motorista também outro jovem Manuel Gonçalves Filho. Além da cor cáqui do uniforme, o General usava muita roupa branca de linho; procurou uma lavadeira do lado brasileiro, seu cozinheiro indicou Dona Rozenda Cordeiro, conhecida lavadeira das autoridades colombianas, que lavava nas águas límpidas do igarapé Santo Antonio e ainda tinha as fontes de águas cristalinas das cacimbas, também utilizadas para beber. Assim, o general uma vez por semana vinha ao povoado deixar suas roupas sujas e levar as limpas, lavadas com sabão de pedra marca Tuxaua e folhas de jurubeba que serviam de amaciantes, depois mergulhadas numa bacia de alumínio contendo anil e goma, colocadas e secas no varal, depois passadas no férreo de carvão bem quente, utilizando pedaços de ouriços de castanha, que fazia melhor brasa e esquentava ainda mais o ferro. Além de roupas eram lavadas também toalhas e roupas de cama. Pelas lavadas dona Rozenda cobrava Cr$ 2,00 (dois cruzeiros), mas nem sempre recebia dinheiro, algumas vezes pedia em troca um pequeno rancho que continha bolachas, café em grãos, açúcar, arroz, enlatados, banha para frituras, goiabada, etc..., em vista de que os produtos de primeira necessidade tornaram-se escassos na região por causa do conflito, os navios gaiolas que vinham de Manaus ou de Iquitos diminuíram suas viagens, o mesmo sucedeu com os navios colombianos que se deslocavam desde Puerto Assis, que ficaram impedidos de navegar pelo Içá. Assim, com muitas dificuldades dona Rozenda e seu marido Benedito Cordeiro, criaram seus filhos.

Quando o General vinha até o Marco, aproveitava para prosear com sua lavadeira, gostava de ouvir da mesma a história que contava como o botou uma onça para correr, quando tentava atacar seus porcos no chiqueiro, batendo uma lata vazia assustou e afugentou o animal. Em, seu retorno não deixava de levar tucumãs, pupunhas e umaris e outras frutas; tomando algumas vezes um cafezinho quente, pilado no pilão que dona Rozenda sempre tinha no bule que saía da trempe do fogão de lenha, colocado em cima de uma boa brasa de mulateiro.

Dona Rozenda foi uma dessas anônimas e humildes personagens, moradora do atual bairro São Francisco, mas exatamente da Rua Marechal Rondon, que fizeram parte de nossa história, contribuindo para que nossa fronteira tivesse essa miscigenação de raças e a participação da mulher nos cruciantes momentos da região. Levada para a cidade de Bogotá por uma de suas filhas, ali veio a falecer no ano de 1992.

Texto publicado no Jornal Portal Tabatinga

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1 Comentários

  1. Que importante y hermoso relato de nuestra historia, mas cuando por medio de este texto encuentro que mis raíces hacen parte del crecimiento y de una Historia en nuestra hermosa frontera.

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